(Eu espero que vocês sejam bons com metáforas)

Parece que me atropelaram com um carro cheio, daqueles que cabem oito passageiros e vinte malas se a gente espremer bem espremido. Mas foi só a vida, de novo, jogando na cara que não adianta olhar pros dois lados pra atravessar a rua. Quem dera tivesse sido um carro mesmo, já que assim a surpresa seria menor - a vida não tem buzina nem freio.

Agora eu fico aqui, com esse jeito de atropelada, jogada no chão do quarto como quem caiu no meio do asfalto quente em um dia movimentado. Ainda bem que o joelho e o cotovelo continuaram no lugar certo, viu? Quem ficou em carne viva no acidente foi o coração mesmo, essa praga que a gente cultiva no meio do peito só pra ver se consegue sentir dor. (Olha, se a raça humana fosse esperta de verdade, o coração seria arrancado junto com o dente do siso.)

Por esses tempos, tenho sido atropelada todos os dias. Uma coisa tão estranha que chega a ser muito assim sei lá: às vezes me orgulho de ser autossuficiente em relação a tudo (mas que tudo é esse? não sei); às vezes prefiro chorar no cantinho abraçada com um urso de pelúcia. Quero justificar minhas falhas, mas hoje - e sempre - o cérebro está muito ocupado descansando no cimento da rua. (Meu Deus, eu falo tanto que me perco com as palavras, chega um ponto que eu nem sei mais o que é real ou não... Dane-se, eu sinto tanto que consigo sentir até o que é inventado.) 

É cansativo viver de falsos atropelamentos diários. Dia desses, talvez, quem sabe, eles param de ser metáforas. 

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