Marionete


Reclamo porque você não larga por nada o olhar misterioso que me consome as vísceras, essa sua timidez complicada me fazendo roer meus restos de unha. E eu falo, falo, falo, e você ouve, ouve, ouve, com essa expressão impassível que tanto me tira do sério, sem saber - ou talvez sabendo, já que é impossível compreender seu semblante deliciosa e irritantemente isento de emoção - que eu falo sem parar porque não quero que o silêncio te dê a oportunidade de me enxergar por dentro e perceber que você me tem entre os dedos, igual marionete. 

E a gente continua assim, banhados por uma garoa que eu queria que virasse tempestade; rosqueando uma lâmpada oscilante que poderia queimar feito fogo.Você me deixa na estante como se eu fosse um livro esperando pra ser aberto (e sou), mas, na minha ânsia incessante de compreender seus pensamentos, quem acaba tentando te ler sou eu. 

É por isso que eu te peço aqui, agora: deixa de lado essa necessidade de se esconder do mundo, meu bem. Ou então, se for pra se esconder afinal, guarda um lugar pra mim do seu lado. 

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