Delírios mudos


Não uso pontuação porque o raciocínio é fluido, não escrevo com borracha porque meus erros não podem ser desfeitos. Isso não é um desabafo meu, é um pedido de socorro pra que alguém entenda que se continuarem deixando o revólver na minha mão eventualmente eu vou atirar. Sou uma bomba-relógio, esperando apenas os outros notarem que tem algo seriamente errado antes de explodir. O que dá medo é que a explosão não me destrói sozinha; arrasta feito terremoto a beleza do olhar dos que estiverem em seu alcance. 

E é no meio desses delírios mudos que uma verdade se sobressai sobre as demais: não me ensinaram a ser feliz. Me contaram que amor era eterno, mas esqueceram de avisar que ser amado não. Trago comigo a crença, enraigada na alma, de  que minha insuficiência ainda não foi aceita pela vida e de que a vida, dentro da minha insuficiência, não foi aceita por mim. Não pedi pra nascer; não pedi pelas angústias que cercam meus pensamentos desde quando aprendi a enxergar (não olhar, enxergar), mas cá estamos. Lapido as palavras que já foram ditas esperando alguém perceber que o que resta dentro de mim é um espelho defeituoso, caolho, que me reflete as coisas ruins e filtra as boas. No entanto, eu permaneço inerte, menina quieta, rabiscando verbos para quem não me lê, só para reconfirmar minha condição passiva. Observo de longe, bem no cantinho, quem desconhece minha existência. Machuca, é verdade, mas conhecimento liberta e eu tenho a mais profundas das ânsias de ser livre (por mais que esse excesso de liberdade assuste, já que o mundo é tão cheio de gente que eu temo que não haja mais lugar disponível). Mas há. E quando me vem o pensamento louco (ou seria esse o único são?) de que poucas felicidades momentâneas não compensam tanto sofrimento, os rostos tão sorridentes quanto familiares invadem minha cabeça e me deixam sã (ou louca?) por mais uns dias. 

Postagens mais visitadas