Maybe we meet again in another life


Corpos que não passam de olhos ao se encontrarem à meia noite. Desconhecidos que se sentem e se completam, embora não se bastem. Duas estrelas distantes, vagando por caminhos não mais que distintos, ainda que concorrentes. E eu, alheio a ambos até o momento, me transformo em vento quente de verão e me pego observando atentamente a troca de olhares perdidos. Não são amantes, fica claro; parecem folhas que, de tão secas, deixam-se levar pela mais leve das brisas. É assim, dentro de uma análise mal-feita, que eu os desenho: seguem distraidamente uma trilha torta, mal reconhecendo a beleza naquele cruzar de passos. E eu sopro, na minha condição de ventania, um pensamento que gostaria que eles escutassem: recuperações são feitas de recaídas, meus caros, e mais vale um coração quebrado que coração nenhum. 

No momento em que passam um pelo outro, seus olhares se encontram por uma fração de segundo antes de ela, timidamente, abaixar a cabeça novamente. A situação era uma metáfora de sua vida, como ela deliciosamente viria a perceber no futuro: se esquiva dele como se esquivava de qualquer ocasião que a tirava da tão segura zona de conforto. Por conta do medo, ou ainda porque seu próprio inconsciente a traía sem remorso; não sou capaz de decifrar seus motivos àquela distância. 

O que sei, justamente porque a observo atentamente, é que ela segue caminho sem se dispor a tropeçar, provavelmente seu maior erro. E é quando o fluxo do olhar se rompe que o mundo os obriga a continuar meros desconhecidos. Talvez se cruzassem de novo, no dia seguinte ou em outra vida. Talvez não. A beleza se encontrava justamente na possibilidade, não é?

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