ESQUECIMENTO

“Não”, murmurou convicto, traço claro de que a negação lhe dava alguma esperança. “Não”, repetiu com segurança similar.
A mulher, cujas malas repousavam no chão frio, pareceu ligeiramente irrequieta. Mas se a atitude lhe causava impaciência, por que tomá-la? Por que provocar infelicidade em ambos?
“É necessário”, ela lhe informou, passando a língua sobre os lábios quebrados e secos. Lábios que, como ele duramente viria a constatar, haviam sido seus um dia. “Eu realmente te amei”.
Não como eu; ficaram as palavras presas em sua garganta. Aprisionadas, assim como as violentas batidas que marcavam o desespero de seu coração traído.
Ele sentiu seu rosto ruborizar. De vergonha, raiva ou dor, não importava. Humilhou-se. Apenas mentalmente, no entanto, já que ela não acataria nenhum de seus esforços. Atirar-se-ia a seus pés; ajoelhar-se ia sobre o piso gelado, implorando pelo perdão de um crime que não cometera. Ele jamais poderia aceitar o incabível, colocar sentido no desconexo ou entender o incompreensível. Ela estava deixando-o e o pensamento de perdê-la o afligia mais do que qualquer outro. Ela podia justificar o quanto quisesse, ele se recusava a entender.
A mulher levou o cigarro que estava entre seus dedos à boca. Aspirou com lentidão, expirou sensualmente.
“Adeus”, finalizou. Lançou a ele um último olhar vazio. Houve uma explosão dentro do corpo do homem quando aqueles dois globos verdes tão familiares encontraram as tediosas fendas castanho-escuro presas dentro de suas pálpebras cansadas.
Ela virou-se de costas. Ele estendeu os braços, tentando freá-la. Por sorte, caiu em si antes de alcançá-la e interrompeu o gesto pela metade.
E então ela se foi, sugando consigo cada vestígio de sanidade presente nele.
O homem virou-se, sentando sobre a cama e convidando a solidão absoluta como única companhia. Parou de respirar, inerte. E ali marcou-se o começo de uma longa jornada de esquecimento.

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