CULPA DOS AEROPORTOS

Sempre odiei aeroportos. Naquela tarde, especialmente, meu desgosto por eles chegou ao ápice. É, minha vida, você trouxe à minha mente um profundo ódio injustificado por aeroportos. Eles o levaram de mim e, portanto, arrancaram-me parte do coração. É tudo culpa dos aeroportos, de seus corredores sólidos e frios, sugadores de vida.

E então eu o vi se afastar. Concedeu-me um abraço representativo, mas, não, não foi o suficiente. Clamava por gritos, por lágrimas, por promessas. Qualquer gesto desesperado que demonstrasse algum tipo de emoção. Assim, com o mesmo olhar sorridente, você se despediu. Não vá, minha vida, não vá. Fique para sempre, fique por mim. Não me deixe sozinha, entregue ao torpor contínuo que é minha existência sem você.

Você não escutou minhas preces silenciosas, entretanto. E eu fui altruísta o bastante para não pronunciá-las em voz alta. Assisti impotentemente à sua ida. Amaldiçoei deuses, praguejei o tempo que passara rápido em demasia. É, você me fez perder a contagem dos dias.

Não fui capaz de implorar para que você ficasse. Concedi-lhe um abraço representativo e você, mais sensato do que eu jamais seria, considerou-o suficiente. Você acenou, eu jurei a mim mesma que gritaria. Por algum motivo que desconheço, a capacidade de produzir sons me abandonara, todavia. Sua ausência me emudeceu. Não me importei. Para quê falar se você não mais estaria ao meu lado para ouvir?

E então eu o observei se afastando. Mergulhei dentro dos seus olhos pela última vez, tentando doentiamente absorver sua luz particular. As lágrimas banharam meus olhos, deixando minha visão turva. Morri um pouco naquela tarde.

Foi tudo culpa dos aeroportos, minha vida, que o voaram para longe de mim.

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